Segundo o G1, a imprensa russa, com sua perspicácia peculiar, usou uma metáfora poderosa para descrever a atual dinâmica entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder russo, Vladimir Putin: duas locomotivas em rota de colisão. A imagem é vívida e ilustra uma tensão crescente que parece ter descarrilado a cordialidade inicial do segundo mandato de Trump. No entanto, o embate é realmente inevitável, ou ainda há espaço para uma reviravolta diplomática?
Acelerando em Direção ao Confronto
Segundo o G1, a analogia das locomotivas ganha força ao analisarmos as ações recentes de ambos os líderes. A “locomotiva de Putin” segue em frente com sua “Operação Militar Especial” na Ucrânia. O Kremlin, mantendo-se firme em sua posição, não demonstra sinais de recuo ou interesse em um cessar-fogo permanente. Por outro lado, a “locomotiva de Trump” vem ganhando velocidade em sua pressão sobre Moscou para encerrar o conflito.
Essa pressão se manifesta de diversas formas. Trump impôs prazos, ultimatos e ameaças de novas sanções, além de tarifas pesadas sobre parceiros comerciais da Rússia, como Índia e China. A situação escalou para além de metáforas, com o reposicionamento de submarinos nucleares americanos mais perto da Rússia. Recentemente, a imposição de uma tarifa adicional de 25% sobre a Índia por comprar petróleo russo mostra a seriedade da abordagem de Washington. Esses movimentos, por sua vez, levantam a questão central: a Casa Branca está, de fato, em um curso de colisão com o Kremlin?
O Contraste de um Início Promissor
A tensão atual contrasta drasticamente com o clima que marcou o início do segundo mandato de Trump. Naquele período, a relação entre Moscou e Washington parecia surpreendentemente alinhada, quase como se estivessem no mesmo vagão, indo para o mesmo destino.
Em fevereiro, os Estados Unidos apoiaram a Rússia na ONU ao se opor a uma resolução que condenava a ofensiva russa na Ucrânia. Além disso, em uma ligação telefônica entre os presidentes, foi discutida a possibilidade de visitas mútuas, alimentando a expectativa de um encontro iminente. Paralelamente, o governo Trump direcionava suas críticas à Ucrânia e a aliados tradicionais, como a OTAN e a Dinamarca, em vez de se concentrar na Rússia. Esse cenário era visto com grande otimismo pelo Kremlin, que interpretava a situação como um enfraquecimento do Ocidente. Jornais russos chegaram a celebrar a “destruição do consenso transatlântico” e a emergência de uma nova ordem geopolítica.
A Frustração Crescente de Trump e a Relutância de Putin
O cenário de otimismo, contudo, começou a se deteriorar. Apesar das visitas do enviado especial de Trump, Steve Witkoff, e de gestos simbólicos, como o presente de um retrato de Trump por Putin, as expectativas de um acordo não foram atendidas. Trump queria um cessar-fogo abrangente e incondicional na Ucrânia, mas Putin se mostrava relutante em suspender os combates, seguro da iniciativa russa no campo de batalha.
Essa resistência gerou uma crescente frustração em Trump, que passou a endurecer sua retórica. Ele condenou os ataques russos a cidades ucranianas, classificando-os como “revoltantes” e “deploráveis”, e acusou Putin de falar “muitas bobagens”. Os ultimatos, que começaram com 50 dias e foram reduzidos para 10, demonstram a impaciência de Trump. No entanto, especialistas como a professora Nina Khrushcheva, da Nova Escola em Nova York, sugerem que Putin não leva os prazos de Trump a sério, vendo-o como alguém que retrocede e altera suas posições. Segundo a professora, Putin continuará a lutar enquanto a Ucrânia não estiver disposta a aceitar suas condições.
Um Acordo Ainda é Possível?
Apesar da dinâmica de colisão, a possibilidade de um acordo ainda paira no ar. Trump, que se considera um exímio negociador, parece não ter desistido. A recente visita de Steve Witkoff a Moscou foi seguida pelo anúncio do Kremlin de que Trump e Putin concordaram em se reunir “nos próximos dias”. Embora um funcionário da Casa Branca tenha negado a definição de data e local, a própria menção a um encontro futuro sugere que os canais de comunicação continuam abertos.
Trump expressou a esperança de se encontrar com Putin e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para encerrar a guerra. Enquanto Zelensky manifestou apoio à ideia, Putin considerou um encontro com o líder ucraniano “muito longe” de acontecer, embora não seja contra a possibilidade.
Apesar de a retórica de Trump ter endurecido, ele reconheceu que o conflito se arrastou por muito tempo e que “milhares de jovens estão morrendo”. Seu objetivo, como ele mesmo afirma, é acabar logo com a guerra. No entanto, as posições de ambos os lados continuam distantes: Donald Trump quer um acordo, mas Vladimir Putin quer a vitória. A questão que resta é saber se, em meio a essa tensão, a diplomacia conseguirá desviar as locomotivas de sua rota de colisão.
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