O futebol, com sua imprevisibilidade, escreve roteiros fascinantes. No Maracanã, os torcedores do Flamengo experimentaram uma mistura de alívio e frustração. O time carioca garantiu uma vitória magra de 1 a 0 sobre o Internacional, um resultado que traz uma vantagem mínima para o jogo de volta no Beira-Rio, pelas oitavas de final da Libertadores. O placar, no entanto, não conta toda a história, já que a partida revelou um Flamengo com duas faces: dominante no primeiro tempo e inofensivo no segundo.
Coincidências e contrastes de uma jornada
A história do Flamengo em 2025 parece um eco da mágica campanha de 2019. O time liderou o Brasileirão no primeiro turno, sofreu uma dolorosa eliminação na Copa do Brasil nos pênaltis para o Atlético, e se classificou de forma dramática na fase de grupos da Libertadores. Até mesmo o palco da grande final, em Lima, no Peru, é o mesmo. Agora, Bruno Henrique, o carrasco do Inter em 2019, repetiu a dose e marcou o gol da vitória. Essas semelhanças enchem o torcedor de esperança.
Apesar das coincidências, existe uma diferença crucial: a qualidade do futebol apresentado. O elenco atual pode ser superior, mas o desempenho em campo está longe do nível atingido pelo time de Jorge Jesus. A inconsistência é o maior problema. O Flamengo de Filipe Luís ainda busca um padrão de jogo que se sustente por noventa minutos. A equipe demonstra potencial em explosões de intensidade, mas não consegue manter a pressão por tempo suficiente para definir os jogos com tranquilidade.
O primeiro tempo: um show de domínio e oportunidades perdidas
O Flamengo entrou em campo com um plano claro: pressionar o Inter desde o início. Com Bruno Henrique atuando como um “falso 9”, a equipe tentou sufocar a saída de bola adversária. O Inter, por sua vez, se fechou, dificultando as investidas rubro-negras. Ainda assim, o domínio do Flamengo foi avassalador. A posse de bola chegou a 75%, e a troca de passes foi superior em mais que o dobro. A equipe empilhou chances de gol, mas a falta de pontaria impediu um placar mais elástico.
Aos 28 minutos, a insistência foi recompensada. Uma cobrança de escanteio perfeita de Luiz Araújo encontrou a cabeça de Bruno Henrique, que subiu sozinho e abriu o placar. O gol era o mínimo para uma atuação tão superior. Depois disso, o Flamengo continuou criando. Plata teve uma chance de cabeça, Plata chutou em cima da zaga, Bruno Henrique finalizou prensado e Luiz Araújo demorou demais para chutar e foi desarmado. A equipe teve cinco chances claras de gol, mas a eficácia ofensiva, que era a marca de 2019, ainda não se manifestou. Por isso, a vantagem de apenas um gol ao final da primeira etapa deixou a partida em aberto.
O segundo tempo: a queda de rendimento e a defesa como trunfo
Enquanto o primeiro tempo foi do Flamengo, o segundo foi marcado pelo recuo da equipe e pelo crescimento do Internacional. O time gaúcho subiu suas linhas, passou a ter mais a posse de bola e criou mais oportunidades. O time de Filipe Luís, por outro lado, parecia perdido. A intensidade desapareceu, e a criação de jogadas se tornou escassa. O técnico tentou mexer na equipe, mas as substituições não surtiram o efeito desejado.
A única chance clara do Flamengo no segundo tempo veio aos 43 minutos, com Luiz Araújo, que desperdiçou uma oportunidade cara a cara com o goleiro Rochet. A queda de desempenho preocupa e levanta questionamentos sobre a capacidade da equipe de manter o ritmo durante toda a partida. Filipe Luís admitiu o problema e a necessidade de encontrar explicações e soluções. Afinal, o elenco, considerado o melhor da América do Sul, tem o potencial para muito mais.
Por outro lado, o desempenho defensivo do Flamengo é digno de aplausos. A equipe chegou ao 30º jogo sem sofrer gols na temporada, e o Inter não criou nenhuma chance de gol clara. Filipe Luís sempre repete que “ataque ganha jogos, mas defesa ganha campeonatos”. Esta solidez defensiva pode ser o grande trunfo para que o time consiga a sua quarta Libertadores, tornando-se o primeiro brasileiro tetracampeão.
O próximo capítulo desta história será escrito no Beira-Rio, onde o Flamengo terá a vantagem do empate para avançar. Antes disso, os times se enfrentarão pelo Brasileirão no mesmo estádio, o que pode servir de termômetro para o confronto decisivo. A vitória foi importante, mas o resultado final da eliminatória ainda está em aberto.
