O cenário político entre o Brasil e os Estados Unidos ganha novos capítulos. O governo de Donald Trump anunciou a revogação dos vistos de Mozart Júlio Tabosa Sales, secretário do Ministério da Saúde, e de Alberto Kleiman, ex-funcionário do governo brasileiro. A razão para a decisão, em primeiro lugar, é o suposto envolvimento de ambos no programa Mais Médicos, especificamente na contratação de profissionais cubanos. Assim, este movimento representa uma escalada nas tensões diplomáticas e levanta questões sobre a soberania nacional e a política externa brasileira.
A decisão foi divulgada por Marco Rubio, secretário de Estado americano. Ele classificou o Mais Médicos como um “golpe diplomático inconcebível” e, ademais, acusou as autoridades brasileiras de compactuarem com o que chamou de “esquema de exportação de trabalho forçado” do governo cubano. Embora essa crítica não seja nova, a revogação de vistos demonstra uma ação concreta e de grande impacto.
Acusações Graves e o Contexto Político
Marco Rubio não poupou palavras ao descrever as razões para a medida. Ele afirmou que o Departamento de Estado está tomando providências para impor restrições a funcionários do governo brasileiro e ex-membros da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Rubio ligou diretamente o Mais Médicos a um suposto esquema de exportação de trabalho forçado. A acusação é séria e, portanto, a retórica agressiva de Rubio eleva a temperatura das relações entre os países.
O governo Trump baseia suas acusações em um comunicado oficial. O documento alega que Mozart Sales e Alberto Kleiman utilizaram a OPAS como intermediária. Eles teriam implementado o programa sem seguir os requisitos constitucionais brasileiros, contornando sanções dos EUA a Cuba. Além disso, o documento acusa os envolvidos de pagar ao regime cubano o valor devido aos médicos. O governo americano argumenta que o esquema enriqueceu a “ditadura” de Cuba e, em contrapartida, privou o povo cubano de cuidados médicos essenciais. Dezenas de médicos, segundo o comunicado, teriam sido explorados.
O Mais Médicos no Olho do Furacão
O programa Mais Médicos foi criado em 2013, durante o governo de Dilma Rousseff. Seu objetivo era levar profissionais de medicina para áreas remotas e carentes, tanto nas periferias quanto no interior do país. Na época, a iniciativa já enfrentava críticas de parlamentares da oposição e de entidades médicas, principalmente pela contratação de estrangeiros.
A maioria dos profissionais era de Cuba, por isso, resultou em uma parceria com a OPAS. Em 2018, com a eleição de Jair Bolsonaro, Cuba encerrou sua participação no programa. O governo Bolsonaro, aliás, rebatizou o programa como “Médicos pelo Brasil”.
A investigação do governo Trump sobre o papel da OPAS no Mais Médicos começou no primeiro mandato do republicano. Em 2020, o então secretário de Estado americano, Mike Pompeo, já havia cobrado explicações da OPAS. Pompeo também acusou a organização de “facilitar o trabalho forçado” de médicos cubanos. Agora, por causa da nova revogação de vistos, a pressão se intensifica.
Reações Políticas e a Soberania Nacional em Debate
A decisão de Trump gerou reações imediatas na política brasileira. O deputado federal Eduardo Bolsonaro, por exemplo, comemorou a medida. Ele a enxerga como um “recado inequívoco” de que ministros e burocratas não estão imunes. Segundo ele, todos os que contribuíram para sustentar esses regimes responderão por seus atos.
Este episódio com o Mais Médicos não é um caso isolado. O governo Trump já havia imposto tarifas a produtos brasileiros e revogado vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Em julho, os vistos de Alexandre de Moraes, Luis Roberto Barroso e outros seis ministros do STF foram suspensos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, manifestou solidariedade e apoio aos ministros. Ele classificou a medida como “arbitrária e sem fundamento”. Além disso, Lula declarou que a interferência de um país no sistema de Justiça de outro é “inaceitável” e “fere os princípios básicos do respeito e da soberania entre as nações”.
O caso do Mais Médicos se junta a essa série de atritos, mostrando um padrão de confronto. A ação de Washington contra o Brasil, agora direcionada a funcionários da saúde, destaca as complexas ramificações da política externa e a forma como decisões internas de um país podem ser alvo de sanções internacionais. De qualquer forma, o cenário diplomático segue tenso.
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